Semear e colher
Não sei exactamente explicar porquê, mas certos nomes – lidos ou ouvidos – trazem-me sempre à memória o meu pai: por exemplo, as «Redacções da Guidinha», de Sttau Monteiro, publicadas no Diário de Lisboa nos idos de 1970 e mais tarde coligidas em livro; ou a revista Seara Nova, de que ainda hoje recordo as muitas lombadas alinhadas na estante de casa dos meus pais. Hoje as revistas que se publicam em Portugal são menos interessantes (desculpem-me os que escrevem para elas, mas é verdade) ou de outro teor (informação rápida, como os tempos) e a democracia também já não leva a que criem projectos intelectuais de combate político pela liberdade ou, como o primeiro número da Seara Nova se arvorava, «de doutrina e crítica». Mas a Seara Nova, fundada nos anos 1920 por Raul Proença e outros seres bem-pensantes, foi um «local» de reunião das elites culturais portuguesas que se opunham à mão de ferro de Salazar. Mais tarde, tornou-se menos política e mais literária – e foram muitos os colaboradores na meia centena de anos em que foi publicada: desde Raul Brandão e Aquilino Ribeiro a Jorge de Sena, Adolfo Casais Monteiro ou José Gomes Ferreira. A boa notícia é que recentemente foi lançado um site da Seara Nova (julgo que com a colaboração do Seminário Livre de História das Ideias da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, que também já fizeram digitalizações de outras revistas) na Fundação Mário Soares e que ele permitirá o acesso à colecção completa desta revista histórica (ver link abaixo). Uma seara para semear e colher.