Sim? Pois não?
Há muitos anos, quando eu ainda ia em Outubro à Feira do Livro de Frankfurt, irritava-me quando queria comprar certo livro para publicar em Portugal e me diziam que os direitos mundiais da língua portuguesa já estavam vendidos a uma editora brasileira. Todos sabemos que, embora o português seja a língua dos dois países, as variantes são distintas em léxico, sintaxe e ortografia, e que nenhum dos países está acostumado a ler traduções de livros estrangeiros feitas pelo outro. Eu, para exemplificar as diferenças em Frankfurt, até explicava que, enquanto atendemos frequentemente o telefone em Portugal com um "Sim?", no Brasil o faziam com um "Pois não?". A verdade é que, por termos assistido ao longo de décadas a telenovelas brasileiras, muitas expressões e palavras do país-irmão entraram na nossa linguagem quotidiana quase sem nos apercebermos; e há hoje de certeza mais gente a cumprimentar com um "Tudo bem?" do que com um "Como vai?" ou "Como está?", e menos ainda com um "Como passou?", típicos da geração dos meus pais. Mas quem sabe e conhece a problemática, e sobre ela escreve agora em livro, é o linguista Fernando Venâncio, que já nos tinha brindado com outra obra sobre as origens do português chamada Assim Nasceu Uma Língua, e agora nos brinda com O Português à descoberta do Brasileiro, obra que parte de uma série de artigos publicados no Jornal de Letras, mas não se esgota aí. Eu, que fico de cabelos em pé quando os meus autores escrevem expressões como "chamar de", mas passei a infância a ler o Tio Patinhas em português do Brasil sem qualquer problema, estou mesmo muito interessada em ler este livro que, de certeza, me vai espicaçar... e ensinar muita coisa.