Sinceridade e meia
Quando se recusa um original por falta de qualidade, está-se na verdade a fazer um grande favor ao autor e aos leitores. Mas a pessoa que o escreveu, a menos que seja alguém muito especial que prefira ser poupado a um enxovalho e a críticas negativas a ter um livro publicado, não vê as coisas assim. É bem certo que custa deitar fora um manuscrito que representou provavelmente um grande investimento em tempo, emoções e às vezes investigação; mas frequentemente a recusa é mesmo a única solução... O escritor Mário Cláudio, que é muito generoso com os que vêm pedir-lhe opinião sobre os seus escritos, contou recentemente no Facebook algumas histórias maravilhosas a este respeito. Numa delas, uma senhora entregou-lhe uma “versalhada do seu punho” para uma avaliação, e o escritor foi sincero e disse-lhe que aquela poesia não tinha qualidade; ao que a madame, em lugar de encaixar o veredicto, ripostou que então iria mandar os poemas a Gunther Grass, que até sabia português, porque ele talvez gostasse. Tinha uma cunhada na Alemanha que era cabeleireira da mulher do romancista alemão e, portanto, não seria difícil lá chegar...