Soeiro Pereira Gomes
Nos tempos em que fui professora de Português, encontrava-se entre as leituras obrigatórias para os alunos, creio, do 9.º ano a obra Os Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes. O romance marcaria várias gerações de leitores (até porque os seus heróis eram também miúdos, os «filhos dos homens que nunca foram meninos») e a primeira edição, com capa de Álvaro Cunhal, acaba de comemorar oitenta anos. A Quetzal teve, pois, a belíssima ideia de republicar agora este romance neo-realista numa edição muito bonita, para nos trazer de volta (ou apresentar) as personagens Gaitinhas, Guedelhas, Maquineta ou Gineto e mostrar a solidariedade e a coragem por eles vivida nesses anos escuros e tão tremendamente pobres que antecederam o 25 de Abril. A efeméride foi também assinalada pela publicação de uma biografia do escritor, da autoria de Giovanni Ricciardi (Soeiro Pereira Gomes: Uma Biografia Literária) recentemente dada à estampa pela editora Página a Página e apresentada no Museu do Neo-Realismo, em cuja sessão esteve presente o filho de Alves Redol, outro dos expoentes da literatura neo-realista portuguesa. Às vezes, é bom que estes livros retirados das listas de leituras curriculares sejam devolvidos aos leitores para que os mais novos os possam ler e não ignorem aquilo por que passaram os seus avós nem esqueçam que a liberdade de que hoje gozam era então praticamente inexistente.