Há tantos autores a escreverem hoje em dia em todo o mundo que, como já aqui tenho dito, são poucos os que se internacionalizam e conseguem traduções noutras línguas. É, porém, bastante curioso que alguns dos que o conseguem comecem a ter êxito e reputação justamente por causa delas. O chileno Luís Sepúlveda, por exemplo, vende incomparavelmente mais livros em Portugal e na Itália do que no seu Chile natal, e Paul Auster confidenciou um dia ao Manel que vendia muito mais livros em França do que nos EUA, onde podia andar pelas ruas à vontade sem ser reconhecido. Há muitos anos as Publicações Dom Quixote publicaram Elena Ferrante, mas nessa altura ela não era célebre como hoje e os livros passaram despercebidos; o que efectivamente a tornou famosa em todo o mundo foi a edição americana de AAmiga Genial. O mesmo para Roberto Bolaño: a tradução das suas obras nos Estados Unidos contribuiu para que se tornasse um mito e fosse publicado em todo o lado, mesmo depois da morte. Num artigo sobre a matéria publicado no The Guardian, leio que uma data de escritores só passaram a ser levados a sério nos seus países de origem depois de alcançarem notoriedade num país estrangeiro: Laura Kasischke, por exemplo, que foi capa do jornal Le Monde em França, enquanto nos Estados Unidos dava aulas numa pequena comunidade do Michigan e ninguém sabia quem era; e também os autores britânicos Robert McLiam Wilson, David Mark e Rosamunde Pilcher, que atingiram números de vendas e admiradores substanciais em França e na Alemanha antes de o Reino Unido lhes prestar atenção; ou mesmo a grande Donna Leon, que diz que os Europeus sempre gostaram mais dela do que os Americanos, pois estão simplesmente mais habituados a ler literatura séria e, além disso, ela sempre viveu na Europa. Durante muito tempo, o nosso querido Rentes de Carvalho tinha um sucesso enorme na Holanda, onde vivia, e cá quase ninguém o conhecia…Enfim, parabéns aos tradutores no meio de tudo isto.
8 comentários
Ana 03.02.2017
Partilho da mesma opinião, não é por acaso que existem cursos universitários de Tradução, nem cadeiras como cultura inglesa, francesa, alemã etc, bem como intertextualidade. Conheço uma pessoa que está a estudar Tradução. Temos bons tradutores, sem desprimor para os restantes, destaco Nina e Filipe Guerra e Aníbal Fernandes. Uma pena que o nome dos tradutores não apareça na capa dos livros, como a editora Ahab fazia. Respondendo ao Sr. Rushdie e ao Sr. Águas: eu leio Bellow e Burgess :)
O que não faltam são "tradutores" péssimos, conheço um que fala inglês medianamente e que faz traduções técnicas! Há tempos vi um filme em que let's make a toast foi traduzido por vamos fazer uma torrada. A pessoa deve ter pegado no texto e toca de traduzir tudo literalmente sem se dar ao trabalho de ver o filme. Já li muita miséria em traduções literárias, de suster a respiração.
Pois. Mas até nem é preciso gastar tanto. Experimente, em vez do caviar, uma colherzinha de alheira de Mirandela assada... Que tal? À nossa! Tchin, tchin!
Mas por aqui já vemos o valor que existe na cultura no nosso país. Os tradutores são pessoas que nos trazem a cultura escrita que não entenderíamos na língua original. Pessoas cultas (o que se espera) que sabem ler nas entrelinhas as referências feitas. Alguns tradutores de Rushdie foram mortos, aquando da fatwa, porquê? E podemos ler a desgraça que foi na sua autobiografia Joseph Anton .Por passarem a mensagem, por expandirem a cultura. Mas por cá não interessa, sabe qualquer coisa? Siga. Lamentável. Gosto muito dos Guerra como tradutores, li-o em alguns livros dos grandes russos, gostaria de saber mais. Aníbal Fernandes não estou a ver.