Teatro
Lembro-me de ter escrito uma peça de teatro para estrear no dia do meu 10.º aniversário (sobre uma princesa que era raptada) e de lá em casa fazermos bastantes teatradas e assistirmos a comédias na televisão quando havia, às terças-feiras, um programa chamado Noite de Teatro. Lembro-me também de, já adolescente, ler textos teatrais de Tchekhov, Sartre, Genet, Brecht e Pirandello e de adorar o nosso Gil Vicente, tendo até colaborado na adaptação da Farsa de Inês Pereira no ano em que acabei o liceu e de ter feito um papel secundário nessa peça. Mas o género literário «teatro» é hoje muito pouco lido, seja por adultos, seja por crianças e jovens, mesmo que – admito – haja uma programação teatral de qualidade muito mais ampla do que na minha juventude e muita gente frequente os teatros, que já não são papões para ninguém. Ainda assim, era talvez necessário que as escolas portuguesas introduzissem melhor o teatro, convocando para a «representação» os seus alunos, em vez de os mandarem simplesmente ler em casa o Frei Luís de Sousa e dissecá-lo na aula. Os franceses põem a miudagem a representar as peças de Molière e Racine no tempo lectivo (e eles aprendem-nas muito melhor assim) e, no Reino Unido, no final do sexto ano, a neta de uma amiga e os colegas representaram Shakespeare no fim do ano, desenhando cartazes e bilhetes e sendo Romeus e Julietas por um dia. É preciso imaginação, não podemos deixar, como está a acontecer em Portugal, que os estudantes achem o Gil Vicente uma seca...