Tecer e escrever
Quando publiquei o meu primeiro livro de poesia, em 1996, o saudoso Eduardo Prado Coelho dedicou-me uma crítica cujo subtítulo dizia: «A poesia de Maria do Rosário Pedreira vem de saber tecer, à maneira de Penélope, uma imensa teia de gestos e referências, objectos e frases, sinais e afectos.» Esta analogia do tecer quando falamos de escrever não é nova; e não é por acaso que se fala tanta vez, por exemplo, no fio da narrativa ou de urdir uma trama ou numa história mal cosida. Mas eu não tinha pensado nunca realmente a sério que talvez a literatura oral tenha sido transmitida sobretudo por mulheres que, não sabendo ler, sabiam contar histórias e as transmitiam umas às outras e às crianças enquanto cosiam ou teciam. A historiadora do livro Irene Vallejo, autora de O Infinito no Junco, gravou para o jornal El País um pequeno vídeo imperdível sobre esta sua convicção (a do papel importantíssimo das mulheres na transmissão da literatura desde tempos muito antigos). E, embora não sabendo se todos compreendem o castelhano, achei irresistível aqui partilhá-lo, pois em cinco minutos é realmente fascinante a ideia que veicula.
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