Técnicas de venda
Toda a gente sabe que no século XXI o marketing atingiu as empresas como uma flecha e nunca mais nos livrámos dele. Tem coisas boas, claro, mas por vezes sobrepõe-se de uma forma estranha e opressiva aos outros departamentos e, na edição, isso foi muito visível quando se passou a tratar o livro como produto e o leitor como cliente e, consequentemente, o autor passou a ser apenas mais uma peça da engrenagem, e raramente a mais importante. De resto, as opções dos departamentos de marketing às vezes são um pouco absurdas, como contou recentemente Miguel Esteves Cardoso a propósito de um sabonete líquido que costuma comprar; quando esse sabonete chegou ao fim no primeiro confinamento, ele foi ao site da marca para o encomendar, mas encontrava-se esgotado. Havia uma opção para ser contactado assim que o sabonete estivesse de novo disponível, mas o jornalista não quis perder tempo nem dar o e-mail que provavelmente implicaria receber mensagens todos os dias sobre outros produtos que nada lhe interessavam. Agora, no segundo confinamento, acontecendo-lhe o mesmo, encontrando-se de novo o sabonete «em ruptura de stock», resolveu ligar para o fabricante, temendo que o produto tivesse sido «descontinuado». E disseram-lhe que havia stock, mas faziam aquilo no site para que os clientes preenchessem a ficha e, desse modo, eles pudessem «seleccionar a clientela» (como se um sabonete líquido fosse um néctar dos deuses...). Está tudo maluco, enfim. Uma vez disseram-me que uma livraria portuguesa punha no Top da loja os livros que não se estavam a vender para ver se as pessoas assim lhes davam atenção e os levavam. É o marketing, senhores, ou seja, não nos podemos fiar nele...