Títulos
Em todos estes anos de trabalho editorial, encontrei títulos francamente maus e nada apelativos nas primeiras versões de certos romances (que foi preciso alterar), mas também títulos óptimos que, por vezes, até prometiam livros melhores do que depois se revelavam. Pôr um título num romance ou num livro de poesia não é uma tarefa fácil, porque o título tem de sintetizar todo um programa ficcional ou poético e é aparentemente impossível dizer muita coisa em poucas palavras. Na imprensa, mesmo assim, o título não tem de ser bonito, mas informativo e sintético. Noto, porém, de há uns tempos para cá como os títulos das notícias ultrapassam em larga medida a sua função. Falo por exemplo do facto de um jornal querer atacar um sistema político que não é da sua simpatia pondo títulos em parangonas que apontam para uma crítica a esse mesmo sistema e explicando depois em letra pequenina o contrário (e nós todos sabemos que muitos leitores só lêem as gordas). Um dia destes, por exemplo, o título de uma notícia fazia crer que os chefes militares queriam a trabalhar a tempo inteiro um soldado amputado (o que parecia chocante) quando, lendo as primeiras linhas, percebíamos que afinal os chefes o queriam no quadro permanente para que não sofresse dificuldades financeiras nem afastamento social. Enfim, uma coisa que devia ser directa tornou-se perniciosa, umas vezes por aselhice, outras por má-fé. Esperemos que a ficção não siga estas pisadas e passe a inventar títulos muito bons só para épater le bourgeois.