Todo um mundo novo para aprender
Durante o primeiro confinamento, recebi o convite de uma escritora romena que vive no Reino Unido para colaborar num poema colectivo no qual terão participado, creio, mais de cem poetas do mundo inteiro, sobre o isolamento em pandemia. Aqui em Portugal, lembro-me de terem contribuído Ana Luísa Amaral e Nuno Júdice, por exemplo, mas havia poetas de todos os continentes, uns mais conhecidos do que outros. Quando chegava a nossa vez, tínhamos de ler o que até ali os nossos confrades tinham escrito e tentar que os nossos versos tivessem uma sequência lógica. Era também obrigatório escrever em inglês (uma espécie de língua que serve para todos) e, mais tarde, mandar um pequeno vídeo lendo os versos ao pé da janela da casa onde estivéramos em recolhimento obrigatório para, depois de montado, o poema surgir completo nas vozes de todos os autores. Era um poema no formato «Renga» japonês e a mentora chamou-lhe Poem of Self-Isolation. Depois de publicado numa revista romena, este poema longo vai agora ser traduzido e publicado numa revista literária no Japão. Avisaram-me ontem, pedindo autorização para a reprodução dos meus versos e uma curtíssima biografia. Até aí, tudo normal. Porém, logo a seguir perguntavam se tinha interesse em ser tratada por outro pronome que não o derivado da «cisgeneridade». Confesso a minha ignorância, tive de ir ver de que se tratava, e aprendi que a palavra se aplica quando a identidade corresponde ao sexo com que se nasceu (no meu caso, o pronome seria «ela», mas há quem se refira a si mesmo como «eles» ou de outras formas). De caminho, li uma data de coisas sobre cisgeneridade, trans, homenidade, não-binaridade, etc., e senti que estou a ficar um bocado velha para este mundo novo. Interroguei-me sobre se doravante tenho de inquirir os meus autores sobre se querem ser referidos nas badanas dos seus livros com pronomes diferentes dos «ele» e «ela» que lá estão, junto das suas fotografias que podem, pelos vistos, induzir em erro.