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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

28
Jan14

Todos os nomes

Maria do Rosário Pedreira

Segundo li recentemente, os judeus asquenazes, a maioria dos quais a viver na Europa Central, foram dos últimos europeus a adoptarem apelidos e só o fizeram, entre 1787 e 1844, quando a isso foram oficialmente obrigados (era preciso, entre outras coisas, cobrar-lhes impostos e eles fugiam com o rabo à seringa). E mesmo então alguns dos apelidos escolhidos duravam apenas uma geração (espertos), pois, enquanto os filhos eram do pai, as meninas eram – perdoem-me – filhas da mãe (Moyshe ben Mendel seria, à letra, Moisés filho de Mendel, mas a irmã de Moisés chamar-se-ia, por exemplo, Sara bat rivka, ou seja, Sara filha de Rebeca). Só mais tarde se criaram nomes de família que tiveram continuidade, muitos dos quais construídos ainda com a ligação ao nome próprio do pai por meio das partículas «son» ou «sohn» («filho» em alemão) ou «wich» e «witz» («filho» em polaco e russo). São deste tempo nomes como o do compositor Mendelssohn ou do milionário russo Abramovitch e ainda o de uma professora que tive na Faculdade de Letras, Joana Rabinowitch, que, na origem, sei-o agora, significava «filho do rabino». Mas, como as mulheres judias por vezes suplantavam os homens em importância e prestígio nos negócios, também surgiram apelidos que remetiam para elas, tal como Goldman (como em Goldman Sachs), que era, nem mais nem menos, «o marido da Golda» (as Golda sempre tiveram tendência para sobressair). Os lugares de proveniência foram igualmente um recurso para a formação de nomes de família judeus – e descobri que o Bayer da aspirina quer tão-só dizer «da Baviera». Por outro lado, muitos outros nomes judeus que existem até hoje nasceram da profissão exercida por quem os escolheu – e o nosso querido Einstein da teoria da relatividade deve o seu apelido a um pedreiro (é o que quer dizer a palavra) enquanto (George) Steiner descende inequivocamente de um joalheiro (não faltariam comerciantes de jóias entre os judeus, como calculam). Mas, tal como em toda a parte, e não só entre judeus, os traços físicos também serviram muitas vezes para definir o apelido e, assim, Grossman (como o do escritor Vassili Grossman) era, antes de tudo, um homem grande (gross + mann) e Alfredo Krauss, um cantor lírico que foi muito apreciado em Portugal, teve um antepassado de cabelo encaracolado (ainda hoje krausen é amachucar em alemão).

2 comentários

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    Cristina Torrão 28.01.2014

    Os apelidos de que falei acima tinham precisamente como base o genitivo do latim, por exemplo: "Menendus filius Gundisalvi" - Mendo filho de Gonçalo, tendo "Gundisalvi" dado Gonçalves. As formas que conhecemos hoje sofreram, claro, evolução fonética.

    Encontrei o capítulo que fala da origem de muitos nomes, na época medieval, mas é grande demais para o transcrever aqui. Pertence à obra "História da Vida Privada em Portugal", no volume refrente à Idade Média, e o capítulo em questão tem o título: "O Nome", incluído na secção dedicada ao corpo e é de autoria de Iria Gonçalves (pp. 198 a 225).

    Uma curiosidade são as alcunhas que deram, mais tarde, apelidos. Os medievais adoravam alcunhas. Mas, se algumas eram inofensivas ou até lisonjeiras (Alto, Louro, Claro, Barba, Amigo, Forte, Verdadeiro, Belo), outras possuíam um tom satírico ou eram mesmo insultuosas (Ranhoso, Madraço, Mata Piolhos, Tinhoso, Pestelença, Ravasco, Roussado). De entre as primeiras, muitas sobreviveram como apelidos, das segundas, por razões óbvias, não se poderá dizer o mesmo ;)

    (quem sabe Torrão tenha sido uma alcunha que escapou)
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