Transparente ou opaca?
No jornal Público do passado domingo li um artigo bem interessante de Sílvia Lapa, terapeuta da fala e técnica especial de reabilitação e eduacção especial, sobre a maior ou menor ocorrência de erros de ortografia nos primeiros anos de aprendizagem da leitura e da escrita. A questão tem que ver com um conceito que não conhecia e que toma os vocábulos «transparente» e «opaco» para definir as línguas. Se um idioma tem uma escrita que pouco espelha a oralidade (o inglês, por exemplo, em que um i, um ch ou um gh podem ser lidos de várias maneiras), diz-se que é opaco, e é mais natural que as crianças dêem erros nessas línguas ou, pelo menos, demorem bastante mais tempo a apreender a grafia correcta das palavras. Se, por outro lado, a oralidade anda a par da escrita (como acontece com o finlandês, em que a grafia reflecte mais exactamente o fonema), então estamos diante de uma língua dita transparente. O português, ao que parece, é uma língua de opacidade média (i e p só têm um som, mas o x pode soar de imensas maneiras, como é visível em palavras como exigir (z), enxame (ch), fluxo (cs) ou máximo (ss), 4 sons distintos!). 85% das crianças espanholas (outra língua mais transparente) lêem com precisão no final do primeiro ano de escolaridade, enquanto só 50% das inglesas são capazes do mesmo. Numa língua cheia de excepções como a nossa, não faço ideia de quanto tempo levam as nossas crianças a ler com precisão. Mas lá que os adultos ainda dão erros, basta ver o Facebook...