Leio num jornal que os novos governantes do Brasil vão fazer reformas profundas no ensino médio. Infelizmente, pela voz do jornalista, parece-me que o país se vai virar para um ensino mais técnico e menos abrangente, privilegiando áreas ditas técnicas e científicas e suprimindo a obrigatoriedade do estudo da filosofia e das artes. Os alunos terão uma carga horária muitíssimo superior – passará das actuais 800 horas anuais para as 1400 (nem vão ter tempo para brincar os pobres) – justificada pelo facto de que, só estando na escola a tempo inteiro, com horário de profissional, o aluno terá possibilidade de aprofundar (e se especializar) em uma de cinco áreas: «linguagens [línguas?], matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional.» Pois, mas então porque é que, mesmo com tanto tempo passado dentro da escola, desaparecem dos programas a filosofia, a sociologia, as artes e a educação física, que passam a ser apenas disciplinas opcionais? Cá para mim, a mudança traz água no bico – e ensinar a pensar deixou de ser uma coisa boa, tal como dar largas à criatividade dos estudantes. Por todo o lado o mesmo, enfim. Tristes reformas.
9 comentários
Cláudia da Silva Tomazi 18.10.2016
Sempre houve o ditado "quem vê cara nem vê coração" e, se o ver donde estaria à morar civilização!?
A carga horária e o ensino mais "direcccionado" será por razões de ocupar por mais tempo e dirigir os jovens, diminuindo a criminalidade por exemplo? Mas as escolas fácilmente se tornam escolas do crime...
Por exemplo sem generalizar equivale o bom gosto. Desde aplicar-se com distinção à estudar possibilita (em termos) o Brasil a cidadania ou, quiça por ventura fora a ilustre carteira escolar, carreira profissional em surgir outra(s) experiência(s) e, eventualmente absorverá este jovem a miúde; fruto antisocial aquém de usos e costumes e qualidades e lides produtivas, literalmente afetivas.
Noutro contexto dizia há tempos Pérez -Reverte a propósito de Literatura (que a maioria não lê) :"Não lê porque não sabem como é bom ler. Porque não se educa para a leitura. Os planos de estudos são feitos por gente que não lê e que não sabe o que dar, (especialmente aos jovens), para ler".
Os planos de estudo são um histórico à parte e, se bem o sei reza a tradição desde longa data que virá e mexe a mula manca, lá e cá. Esperança existe! A cultura pedagógica e a leitura estão presentes em muitos lugares à vencerem paradígmas sociológicos.