Tu cá, tu lá
Lembro-me perfeitamente, numa altura em que o meu pai viveu em Madrid durante a minha adolescência, de se comentar por lá que as pessoas tinham passado a tratar-se por tu, independentemente da diferença de idades ou do estatuto; que, embora num café ou restaurante, clientes e funcionários continuassem a manter alguma distância, os alunos tratavam por tu os professores e o mesmo acontecia entre desconhecidos (ao Manel, num comboio, o companheiro de compartimento apresentou-se-lhe e perguntou: «Y tu quien eres?»). É verdade que os Portugueses são mais formais, mas que em certos âmbitos isso se está a perder. Encomendei numa livraria física um romance que queria oferecer a uma das minhas sobrinhas (apesar de ser recente, não havia nem um para amostra...) e recebi no dia seguinte um e-mail a dizer: «Temos boas notícias! O teu livro chegou. Podes levantá-lo no balcão das encomendas», etc., etc., etc. O livro que pedi não era nada juvenil, por isso só me ocorre pensar que estamos a adoptar cada vez mais o «you» e que um dia destes ainda nos vamos tratar todos por tu, como aqui ao lado... ou a falar inglês.