Um caderno só seu
É impossível não pensar em Um Quarto Só Seu, de Virginia Woolf, quando lemos O Caderno Proibido, de Alba de Céspedes, nascida em Roma em 1911, filha do Embaixador de Cuba. Este seu romance, escrito nos anos 1950, é um livro sobre a falta de tempo e espaço para si própria que sente uma mulher casada com dois filhos já universitários, pois dela se espera que resolva tudo em casa, apesar de ter também um emprego como secretária, pois a guerra foi há pouco tempo e o seu ordenado tornou-se necessário para equilibrar as contas da família. De repente, porém, compra um caderno e começa a escrever nele as suas reflexões, os seus pensamentos e, claro, também os seus segredos. Esconde o caderno sempre muito bem escondido, mas passa a vida apavorada a pensar que um dos filhos ou o marido possa dar com ele e descobrir-lhe os pecados (mais intenções do que actos). Porém, o mais interessante nesta história é que aquilo que ela critica na filha (demasiada liberdade, uma relação avançada...) acaba por ser um pouco o que ela, afinal, deseja para si própria. Muito curioso também é o conservadorismo extremo do filho que, num toque surpreendente, acaba por cair nas suas próprias armadilhas e fazer o contrário do que prega. Esta é uma autora que vale muito a pena ler, agora redescoberta e republicada em muitos países, elogiada por Annie Ernaux e Elena Ferrante. A tradução é de Ana Cláudia Santos.