Um certo verão
Uma das desvantagens de passar férias em lugares que praticamente não têm livrarias (aconteceu-me ao longo de muitos anos, acreditem) é que, se não acertarmos nos livros que levamos connosco, é uma tragédia termos de gramar as estopadas que acreditámos serem leituras gratificantes e pode inclusivamente estragar-nos as férias (é por isso que devemos sempre levar um ou dois clássicos). Já me aconteceu mais de uma vez a decepção total, mas também já me aconteceu o contrário: levar uma pasta cheia e serem todos livros maravilhosos. Por exemplo, o ano em que li Rabos de Lagartixa, de Juan Marsé, foi o mesmo ano em que li O Leopardo, de Lampedusa, e um romance absolutamente notável que é, na verdade, o que me leva hoje a escrever este post: La Coca, de Rentes de Carvalho. Já não me lembro se cheguei a escrever sobre a obra-prima aqui no blogue (estou com preguiça de ir ver), mas soube agora que a Quetzal assinala o décimo aniversário da publicação deste livro com uma edição novinha em folha e tenho mesmo de a aconselhar a quem ainda não conheça: a par de uma investigação sobre o contrabando e posteriormente o tráfico de droga no Minho e na Galiza, um relato proustiano (mesmo!) da infância e juventude do narrador que é delicioso. Avancem. Se não conhecem o autor, podem começar por aqui e depois papar os outros todos. (A capa do meu é diferente.)
P. S. Hoje Itamar Vieira Junior estará à conversa com Isabel Lucas na FNAC do Colombo às 18h30.