Um prémio póstumo
Na sexta-feira passada, estava eu a tentar recuperar de um ataque de sinusite, daqueles que nos imobilizam até tomarmos o segundo comprimido de antibiótico (ataque contraído uma vez mais por causa da temperatura estupidamente gelada do avião que me trouxe de Ponta Delgada), quando me vieram dizer que o poeta Nuno Júdice tinha vencido o Prémio Oceanos com o seu livro Uma Colheita de Silêncios. Já sabia, claro, que o livro era finalista do galardão, mas pareceu-me que o júri teve uma grande coragem em entregar o prémio a alguém que já não o pode agradecer, mesmo quando a intenção era premiar o melhor, porque é um gesto bastante raro e geralmente os organizadores dos prémios gostam mais de ter o vencedor presente na festa (para ser entrevistado e aparecer nos jornais e televisões). Sei que o nosso querido Nuno ficaria felicíssimo com mais esta distinção e que nos daria a notícia com aquele seu sorriso inesquecível; para ele, seria apenas mais um prémio internacional (para quem ganhou uma data deles, enfim), mas para nós, amigos e leitores, é importante saber que o seu último livro publicado em vida foi acariciado depois de tantas homenagens importantes e antes de outras que o nosso poeta merecia mas não poderá já ter. Mando, assim, um abraço a quem deu o prémio e saudades para quem o venceu.