Uma coisa e outra coisa
Hão-de lembrar-se ou ter ouvido contar que, no dia em foram entregues os prémios César do cinema, quando foi anunciado o prémio de melhor realizador para Roman Polanski, houve um sururu na sala, que muitas mulheres abandonaram a vocieferar (especialmente uma que foi presumivelmente vítima dos seus abusos), e um sururu ainda maior cá fora, uma manifestação contra o cineasta com cartazes em que estava escrita a palavra «violador». Bem, costuma dizer-se que, até se ser sentenciado, se é inocente, mas, além disso, não se pode confundir o homem com o artista, embora haja muita gente que não perceba isto, não queira perceber, ou simplesmente não consiga separar as águas. Uma coisa do mesmo tipo está agora a suceder a Woody Allen, cuja autobiografia, depois de ter sido comprada por uma editora francesa, foi afinal abandonada sob pena de o pessoal feminino da editora se demitir em massa. Oh, céus! Não só o senhor Allen foi ilibado das acusações, como o pessoal dessa editora não deve ser assim tão imprescindível, se não consegue perceber a diferença entre autor e pessoa. Estamos, infelizmente, no mundo que censura a obra por não gostar do homem e isso é que é um escândalo.