Uma morte difícil
Na semana passada, para começarmos mal, morreu-nos Mario Vargas Llosa, o grande (enorme) romancista peruano, premiado com tudo o que havia para ganhar, incluindo o Nobel da Literatura em 2010. Autor de livros absolutamente marcantes, e tão diferentes uns dos outros como Conversa na Catedral, Quem Matou Palomino Molero, A Guerra do Fim do Mundo ou, mais recentemente, As Travessuras da Menina Má e O Sonho do Celta, fez-me apanhar um bruto escaldão na Praia da Luz, em Lagos, há muitos anos, enquanto lia A Tia Júlia e o Escrevedor, que se baseia na sua própria experiência de radialista e pretendente de uma tia por afinidade, com quem na vida real acabaria por ficar casado durante doze anos. Era, além disso, um desses autores que falam bem, e ouvi-o a propósito do seu percurso (já aqui o contei) na Feira do Livro de Guadalajara, no México, numa ocasião em que contou como a leitura o ajudara no colégio interno a perceber que não era o único miúdo no mundo a sofrer a privação da mãe e da alegria. Era por fim um homem implicado na política, não indiferente, tendo-se candidatado a presidente do Peru e escrito romances com fundo político (Lituma nos Andes, um dos meus preferidos), mesmo que o amor nunca fosse estranho a esses livros. Presto-lhe homenagem neste blogue e espero que a sua herança crie grandes escritores por esse mundo fora. A sua obra é para continuarmos a ler e reler.