Uma questão de genialidade
Há muitos anos tomei contacto com um livro sobre o génio, da autoria de Douglas Hofstadter, chamado Gödel, Escher, Bach – e vencedor do Pulitzer em 1979 –, que pegava nestas três personalidades (um matemático, um «pintor» e um músico) para falar do brilhantismo da mente e de mais milhentas coisas que não são o que hoje me traz aqui. Hoje venho falar de um outro livro sobre o mesmo assunto, mas desta vez literário. Trata-se de Génio, de Harold Bloom, que saiu muito recentemente em Portugal, doze anos depois da edição americana (mas, caramba, são 900 páginas de letra miudinha e, num país com um mercado tão pequeno como o nosso, é precisa coragem para pagar uma tradução deste tamanho). Bem, Harold Bloom é uma espécie de Samuel Johnson da contemporaneidade, um crítico literário muito respeitado em todo o mundo e autor de uma outra obra corajosa chamada O Cânone Ocidental que já provocou rios de tinta. E, neste seu Génio, pega nos cem autores que, segundo a sua opinião, são os mais criativos de todos os tempos e divide-os numa espécie de mosaico que nada tem que ver com cronologia (só para dar um exemplo, Proust está com Beckett e Camões com Joyce). Este mosaico tem dez «azulejos» e cada azulejo está por sua vez dividido em dois, cada metade com cinco autores e a explicação do que os liga. Nós só temos três nos cem – o referido Luís Vaz, Pessoa e Eça – mas estão lá todos os maiores escritores que nos virão logo à cabeça quando pensamos em génios e ainda muitos outros sobre os quais vale a pena ler. Aos poucos, claro, porque são, como disse, quase mil páginas...