Vaidade
Nós, editores, lidamos quase todas as semanas com os egos dos autores (que, ainda por cima, nem sempre são proporcionais ao seu génio ou talento). Aconteceu-me muito ao longo da minha vida profissional serem os escritores mais inexperientes os que mais se indignavam com uma simples emenda, e isto para dizer que muitos dos grandes autores percebem logo que falharam e até ficam gratos por termos dado com o erro ou a distracção. O Manel contou-me que há muitos anos, quando Lobo Antunes começou a publicar na Dom Quixote e lhe encontravam aqui e ali coisas que pareciam não bater certo, não só ele concordava como dizia logo aos editores que corrigissem, nem queria ser ele a ter esse trabalho. Mas às vezes também os consagrados mostram ter egos insuportáveis e, quando o Manel era ainda um jovem, no fim de uma reunião de trabalho, um desses grandes poetas que Portugal já teve entregou-lhe, à laia de presentinho, um bilhete de eléctrico já usado. Não percebendo o que fazer com aquilo, o Manel atreveu-se a perguntar para que era, ao que o génio respondeu que se tratava de uma coisa que ele próprio utlizara numa viagem e que, portanto, teria o seu valor. Que ego, não?... Verdade seja dita que o bilhete foi deitado ao lixo nesse mesmo dia, mas, pensando no post de ontem, será que, se fosse hoje, alguém o poria à venda no OLX, dizendo tratar-se de um bilhete com que viajara fulano de tal?