Verdade e consequência
Não, não é um jogo; é, pelo contrário, uma coisa séria – ainda por cima vinda de um homem muito divertido, Luís Fernando Veríssimo (LFV), um tímido ao vivo que, na página do jornal, está sempre cheio de humor. Como certamente sabem, entrou recentemente no domínio público (expliquei o que isto era na sexta-feira passada) o livro Mein Kampf, de Adolf Hitler, tendo sido publicado ou republicado em variadíssimos países. O facto causou bastante indignação nuns lugares, polémica noutros, e o livro chegou até a ser proibido aqui e ali (no Rio de Janeiro, segundo li, havia intenção de apreender os exemplares das livrarias). Mas LFV diz que não vê grande problema em que a obra circule para “historiadores, estudantes de psicologia de massas e até curiosos sobre como pode alguém galvanizar uma nação inteira e mudar a sua história”. Com uma condição, claro: ele sugere que Mein Kampf venha acompanhado de um "DVD com cenas dos cadáveres empilhados e dos moribundos esquálidos descobertos em Auschwitz e outros campos de extermínio, no fim da Segunda Guerra Mundial. Cenas terríveis dos esqueletos das cidades bombardeadas e dos milhares de refugiados tentando sobreviver em meio aos escombros, enquanto o mundo ficava sabendo, nos julgamentos dos criminosos, das barbaridades cometidas em concordância com a Kampf do Hitler. Assim, o comprador do livro teria o nazismo como teoria e o nazismo na prática.” LFV tem razão: se certas teorias pudessem vir acompanhadas das suas consequências, talvez muitas barbaridades pudessem ser evitadas por aquilo a que chama, com muita graça, uma espécie de “remorso preventivo”...